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Lar Hospital, Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio

História

 

 

FUNDAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO [1560-1910]

 

O ano 1560 — data provável da fundação da Misericórdia de Mesão Frio — não se encontra documentado no valiosíssimo Arquivo desta instituição de caridade; no entanto, a força da tradição oral, que percorreu, até nós, um longo caminho de mais de quatro séculos, diz-nos que foi naquele ano que André da Fonseca — um fidalgo da Casa Real — e dona Verónica de Mesquita, sua segunda mulher, fundaram um Ospital em Fundo de Vila [Mesão Frio], para nele acolherem os mais necessitados.

 

Mas a Figura mais prestigiante na consolidação da Misericórdia de Mesão Frio, indubitavelmente, foi o fidalgo-cavaleiro António de Azeredo e Vasconcellos, quando, após o regresso definitivo das Índias orientais [Damão e Diu], já nos finais do século XVI, instituiu esta Santa Casa como herdeira universal de todos os seus vastos e importantes bens.

 

António de Azeredo e Vasconcellos e sua mulher dona Maria de Mesquita [filha dos fundadores…], não tendo filhos, mandaram edificar em 1595 uma capela com as “armas” de Azeredos na igreja de S. Nicolau da vila de Mesão Frio, capela a que deram  a invocação do Menino Jesus e Inocentes Mártires, à qual vincularam todos os seus bens, cujos rendimentos seriam aplicados à conservação do Hospital da Misericórdia, que reformaram, nomeando administradora do referido vínculo a Mesa da Misericórdia de Mesão Frio, que, por escritura de 16 de Junho de 1602, feita pelo tabelião Baltasar Borges, aceitou a referida administração.

 

Os primeiros Estatutos [Compromisso] da Misericórdia de Mesão Frio foram elaborados no ano 1630, mas deles não resta memória escrita, suspeitando-se que tenham desaparecido — como tantos outros valiosos manuscritos — na voragem do incêndio ateado pela tropa de Loison aos baixos do Hospital da Santa Casa onde se encontrava o Arquivo.

 

O Livro da Instituição, iniciado no ano 1602, e o Livro de Tombo (Registo), principiado oito décadas depois, foram, recentemente, classificados como «Unidades de Valor Excepcional» pelo Ministério da Cultura, e fazem parte do Arquivo histórico da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio constituído por 264 livros, 41 pastas, 86 maços, 44 cadernos, 152 cadernetas, uma caixa e 1 bloco, instalados nos serviços administrativos da instituição e inventariados por Manuel Silva Gonçalves e Paulo Mesquita Guimarães, do Arquivo Distrital de Vila Real.

 

Durante mais de duzentos anos — após a instituição por António de Azeredo e Vasconcellos—a Misericórdia de Mesão Frio tornou-se uma irmandade poderosa, com importantes e numerosos bens patrimoniais que se estendiam desde o antigo concelho de Penaguião até ao extinto concelho de Bem-Viver [hoje Marco de Canavases], deles usufruindo importantes rendimentos que eram reconvertidos em capital mutuado ao «juro de lei».

 

Não obstante toda a sua grandeza patrimonial, muito por incúria de algumas Mesas administrativas, a partir da 2.ª invasão francesa [Maio de 1809], a Misericórdia de Mesão Frio entrou em declíneo, e, durante todo o século XIX, atravessará longos períodos de instabilidade económica, em que a ruptura financeira e a sua extinção estarão, ciclicamente, ameaçadas.

 

Presidir como Provedor às Mesas administrativas foi sempre uma «honra nunca remunerada», tendo sido esse raro privilégio social exclusivo da gente mais nobre das casas de Mesão Frio ou dos seus arredores. Na longa lista dos Provedores da Misericórdia de Mesão Frio, encontram-se, maioritariamente, titulares de casas nobres, capitães-mores e até abades com costela de fidalguia; no entanto, a família Azeredo Pintos — oriundos da nobre Casa de Penalva de Ancede e da Casa da Picota, em Mesão Frio, e descendentes, colaterais, do instituidor António de Azeredo e Vasconcellos — ocuparam, durante mais de três séculos, os mais importantes cargos na provedoria e capelania da Misericórdia desta vila.

 

Ao longo da sua história, esta instituição caritativa foi credora de continuados donativos que ajudaram a suportar, economicamente, a administração diária do seu Hospital: André da Fonseca, António de Azeredo e Vasconcellos, Rui Borges Pinto e dona Briolanja Soares, no século XVI, ou o cirurgião João Félix da Fonseca, e o fidalgo-Provedor Manuel de Moura Coutinho [da Casa de Entráguas, em Santa Marinha do Zêzere], no século seguinte, foram dos mais importantes beneméritos nos primeiros duzentos anos da sua existência. Mais recentemente, já no século XIX, o capitalista José Caetano de Carvalho; o extravagante doutor António Vicente de Sequeira; o visionário barão de Castelo de Paiva; o “brasileiro” Domingos Pinto da Silva; a baronesa de Fornelos [a mais importante proprietária, do concelho de Mesão Frio, no último quartel daquele século]; o conde de Samodães; dona Maria do Espírito Santo Carvalho; Francisco de Sampaio Moreira, e tantos, tantos outros esquecidos — são Figuras de grandes Benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio, cujos nomes ficaram, indelevelmente, gravados, nos Termos de Actas desta instituição centenária.

 

B. Vieira de Oliveira

 

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